quinta-feira, março 15, 2007

O MALUCO BELEZA MAIS AMADO E ODIADO DA MÚSICA BRASILEIRA

Raul Seixas é o tipo de artista anti-artista. Foi um ícone da música, amado por muitos, odiado por outros tantos. Raul teve problemas de relacionamento com as mulheres, com os amigos, com os fãs e com as gravadoras por onde passou. O baiano de Salvador foi influenciado pela música nordestina e pelo rock dos anos 50. Em 1960 forma o grupo Os Panteras. Faz shows na capital baiana e vai ao Rio de Janeiro para gravar um disco "Raulzito e os Panteras". Foi um fracasso de vendas. Passou então a trabalhar como produtor de uma gravadora. Escondido do dono da empresa, grava um disco com um título, no mínimo, cômico: Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta: Sessão das Dez. Resultado: foi demitido. Passa então a participar de festivais até ser contratado pela Philips. Lança grandes sucessos, briga com a gravadora e fica entre uma e outra durante anos. Depois de 20 anos de carreira, o excesso de consumo de álcool provoca nele uma pancreatite. Foi fatal. Raul morreu, mas deixou uma série de músicas fabulosas para os fãs. Esses se renovam, mostrando que Raulzito é também um artista de várias eras. A música que escolhi para postar no blog é Gita, uma das mais conhecidas de Raul. Eu me lembro que, quando criança, ouvia a música e ficava me perguntando como alguém poderia ser da telha, o telhado? A pesca do pescador? E como explicar que a letra "A" tem meu nome? Eu não entendia nem tinha ouvido falar da licença poética. O poeta pode tudo. O papel aceita tudo e nós, que tenhamos nossas próprias conclusões sobre o que está escrito. É como olhar para uma pintura abstrata: você pode ver uma imagem e quem está ao seu lado, outra. É um tipo de arte que depende do espectador para fazer sentido. Ou sentido nenhum. Assim é Raulzito. Amantes da boa música, com vocês, Raul Seixas.


"Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo
procurando,
foi justamente num sonho que ele me falou"



Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado


Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar


Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar
Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou, eu fui, eu vou


Gita gita gita gita gita


Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição


Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada


Por que você me pergunta
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra
Do fogo, da água e do ar


Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim


Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor


Eu sou a dona de casa
Nos pegue-pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo


Gita gita gita gita gita


Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão


Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai e o avô
O filho que ainda não veio
O início, o fim e o meio


Eu sou o início, o fim e o meio

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