sexta-feira, maio 18, 2007

FIM DA SEMANA DEDICADA AO CHICO

Para encerrar essa semana em homenagem a Chico Buarque, separei a música preferida dele, se é que é possível escolher apenas uma. Construção é uma canção explêndida, de 1971. Música de verdade não tem idade, tem qualidade. Essa música já foi regravada por muita gente. A melhor é a versão do grupo MPB4.

O que me chama a atenção para a canção é que o personagem dela leva uma vida extremamente simples, mas contada de uma forma complexa. Relata o último dia de um pedreiro que se despede da mulher para ir ao trabalho e acaba morrendo enquanto trabalhava. E isso não é contado dessa maneira. Cada frase acaba com uma palavra proparoxítona. Na segunda e na terceira partes, essas palavras são trocadas entre uma frase e outra, dá outro sentido a cada uma, mas não muda o sentido do que o autor quer dizer. Num momento, o personagem come feijão com arroz como se fosse um príncipe. Logo depois, como se fosse o máximo. Ele também morre na contramão atrapalhando o público, o tráfego e o sábado. Cada um em um determinado momento da música. Obra-prima. Essa canção encerra bem a semana do Chico. Amantes da boa música, com vocês, Chico Buarque.


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Nenhum comentário: