MUTANTES: MAIS ATUAIS DO QUE NUNCA

Mutantes foi uma das bandas mais criativas do cenário musical brasileiro. Influenciou músicos tupiniquins e estrangeiros, além de marcar época, com um som novo, eclético e riquíssimo. Em 1968 Rita Lee, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista conseguiram um segundo lugar, num festival da record, ao lado de Gilberto Gil, com a música Domingo no Parque. No mesmo ano, lançaram o primeiro disco com os sucessos Batmacumba e Panis et circensis. Essa é a música do dia de hoje. Panis et circensis (pão e circo, em latim), de Caetano Veloso, deve ser ouvida sempre que possível. A letra não pode ser lida como está escrita. A leitura deve ser interpretativa, já que é metafórica do início ao fim.

Quando diz que "soltei os tigres e os leões nos quintais", Caetano quer dizer que fez o impossível, o inimaginável, o impensável, mas "as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer". O bom baiano quer dizer que, apesar do que ele fez, a classe alta, a alta sociedade, os magnatas não estão nem aí. Talvez essa seja a primeira música de Caetano com a qual eu tenha me apaixonado. Mas na época eu não sabia quem era ele ou que a música era dele. Eu só ficava viajando nas letras. Isso, com dez, onze anos. Quero repartir essa sensação com todos. Por isso, dá-lhe Mutantes. Amantes da boa música, com vocês, Mutantes.

Eu quis cantar
minha canção iluminada de sol
Soltei os panos sobre os mastros no ar
Soltei os tigres e os leões nos quintais
Mas as pessoas na sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal
Para matar o meu amor e matei
Às cinco horas na avenida central
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer

Mandei plantar
folhas de sonhos no jardim do solar
As folhas sabem procurar pelo sol
E as raízes procurar, procurar
Mas as pessoas da sala de jantar
Essas pessoas da sala de jantar
São as pessoas da sala de jantar
Mas as pessoas da sala de jantar
São ocupadas em nascer e morrer