quarta-feira, fevereiro 28, 2007

O MARXISTA NORDESTINO


A música do dia de hoje é a sugestão de uma amiga. Ela gosta muito do Lenine, assim como eu. Por isso decidi que o nordestino com nome de líder comunista seria o homenageado de hoje. Não é nem preciso dizer que Lenine recebeu este nome por causa de Lênin, o pai do comunismo, na antiga União Soviética. O pai do músico era fã do líder soviético. A música que apresento a você, leitor, é Todas elas juntas num só ser. O motivo para essa escolha é simples: numa entrevista com Lenine, eu perguntei qual é o maior sucesso dele. A resposta foi, no mínimo, original. Ele disse que se essa pergunta fosse feita ao Alexandre Pires, a resposta seria o nome da música que mais tocou nas rádios, que mais fez vender discos... e para ele a resposta é outra: "meu maior sucesso é aquela canção que, depois de pronta, eu disse: meu Deus, como consegui fazer uma música tão perfeita?" Não interessa se tocou muito em rádio ou coisa parecida. O que importa é a grandiosidade da melodia, da letra, enfim, da música. Ele citou Todas elas juntas num só ser. A canção é do próprio Lenine e de Carlos Rennó. É realmente uma música espetacular, além de ser uma belíssima declaração de amor. Eu também gosto muitíssimo dela. Por isso quero dividir com todos os leitores do blog. Amantes da boa música, com vocês, Lenine:


Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Benjor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;

Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;
Nem a tigreza nem a Vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia do Los Hermanos.


Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.


Não canto de Melô Pérola Negra;
De Brown e Hebert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina


Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Layla, de Clapton, eu abdico.


Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.


Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmená;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;


E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão


Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.


De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!


Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.


Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.


Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madallene, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;
Ou como, de Caymmi, a moça prosa


E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...


Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:


Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Steve Wonder, ó minha parceira.


Você é pra mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a domna pra Ventadorn, Bernart;
Que a honey baby pra Waly Salomão
E a funny valentine pra Lorenz Hart.


Só você,
Mais que tudo e todas, é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ouvir Lenine é sempre um prazer! É incrível como ele é um dos poucos músicos do Brasil, quiçá do mundo, que consegue transformar com simplicidade e magia "letras e notas musicais" em verdadeiras "poesias" que falam ao coração e a alma. Claro que além disso, e como nordestina que sou, é um orgulho assumidamente "bairrista" vê-lo transgredir barreiras de tempo e espaço! Dei a sugestão do músico sim, mas a escolha da música foi primorosa! Afinal de contas ser todas juntas em uma só não deve ser nada fácil!!! Beijocas

Anônimo disse...

Gostaria de obter mais informações sobre a formação socialista de Lenine. Onde posso conseguir?
Sou "meio"-fã dele.