terça-feira, fevereiro 27, 2007

CAETANO VELOSO É O ESTRANGEIRO DE HOJE



A música do dia de hoje foi um pedido do meu irmão Washington Moreno. É a música que ele mais gosta do cantor que ele mais gosta. O estrangeiro, de Caetano Veloso. Caetano é mesmo um fenômeno. Tem letras espetaculares, uma musicalidade variadíssima e é respeitado no mundo inteiro. Natural de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, foi estudar, ainda criança, em Salvador. Ao lado da irmã mais nova Maria Bethânia (foi ele quem escolheu o nome dela), se interessa por Bossa Nova. João Gilberto, principalmente. Nos anos 60 conheceu o bancário Gilberto Gil, Gal Costa e Tom Zé. Juntos, fazem shows no interior baiano. Em 1965, o Brasil está se acostumando com o golpe militar e os artistas começam a mostrar que não estão satisfeitos com o que aconteceu na política. No show "opinião", no Rio de Janeiro, Maria Bethânia substitui Nara Leão. Caetano vai acompanhar a irmã. É quando ele lança o primeiro compacto (disco menor que LP com apenas duas músicas). Em 1967, durante o Festival da Canção, ele canta É Proibido Proibir. É vaiado pela platéia e fica indignado. Foi só um percalço. Depois da tempestade, a bonança. Lança discos consagrados pela crítica e pelo público. Roda o mundo, lança a Tropicália, ao lado de Gil e se consagra como um excelente compositor, cantor e músico. O Estrangeiro é a primeira música do disco de mesmo nome, de 1989. Nesse mesmo álbum, ele grava Carlinhos Brown pela primeira vez com a música Meia Lua Inteira. Se bem que de lá pra cá, Caetano tem mudado um pouco o rumo artístico que sempre cursou. Gravou Um Tapinha não Dói e Sozinho. A primeira, um funk de quinta e a outra, uma melancólica letra à la Peninha. Fez parte da trilha sonora de uma novela, embalou o casal principal do folhetim e tocou nas rádios até furar o disco. Não deu outra: vendeu como água. Mas que a música é pobre, ah, isso é. Caetano sempre se envolveu em polêmicas como essa e parece gostar. De qualquer forma é um daqueles músicos que temos orgulho em dizer que é brasileiro. Está na segunda colocação na minha lista dos mais mais. Com vocês, amantes da boa música, O Estrangeiro, de Caetano Veloso.

O pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara. O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela. A Baía de Guanabara.

O antropólogo Claude Levy-Strauss detestou a Baía deGuanabara: pareceu-lhe uma boca banguela. E eu menos a conhecera mais a amara? Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela O que é uma coisa bela?

O amor é cego

Ray Charles é cego

Stevie Wonder é cego

E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem

Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem? Uma arara? Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara

Em que se passara passa passará o raro pesadelo que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro eu não sonhei :

A praia de Botafogo era uma esteira rolante de areiabranca e de óleo diesel sob meus tênis

E o Pão de Açucar menos óbvio possível

À minha frente Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas

À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura

Do branco das areias e das espumas que era tudo quanto havia então de aurora

Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas e uma menina ainda adolescente e muito linda

Não olho pra trás mas sei de tudo cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo

Mas eu não desejo ver o terno negro do velho nem os dentes quase não púrpura da menina(pense Seurat e pense impressionista essa coisa de luz nos brancos dentes e onda mas não pense surrealista que é outra onda)

E ouço as vozes

Os dois me dizem

Num duplo som como que sampleados num sinclavier:

"É chegada a hora da reeducação de alguém Do Pai do Filho do espirito Santo amém

O certo é louco tomar eletrochoque o certo é saber que o certo é certo o macho adulto branco sempre no comando e o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo reconhecer o valor necessário do ato hipócrita

Riscar os índios, nada esperar dos pretos" e eu, menos estrangeiro no lugar que no momento sigo mais sozinho caminhando contra o vento e entendo o centro do que estão dizendo

Aquele cara e aquela: é um desmascaro Singelo grito:"O rei está nu"

Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nú

E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo e entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.

("Some may like a soft brazilian singer but i've given up all attempts at perfection").

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Cristiano por usar esse espaço para levar um pouco de cultura. Quem será o proximo de sua lista? Você está de parabéns mesmo.

Só que gostaria que o Unainet e você falasse um pouco mais sobre a cidade de Unaí.

Cristiano Oliveira disse...

obrigado, anônimo. Vou seguir seu conselho e aumentar a lista de boas músicas a cada dia. Quanto à sua sugestão, vou começar a escrever sobre a cidade, sim. A primeira parte já está no blog. Vou aos poucos, já que é muita coisa.