E SE A MODA PEGA...

Nos últimos dias assistimos atônitos a rendição do governo à pressão dos controladores de vôo. Uma causa justa estava em jogo? Sim! Afinal, qualquer trabalhador, seja militar ou civil, tem o direito de trabalhar livre dos riscos e da pressão que causa o estresse (e os acidentes aéreos). Também o profissional controlador de vôo tem o direito de receber salários dignos, e precisam de condições técnicas e humanas favoráveis ao desempenho de suas funções, bem como para a garantia de segurança de nós passageiros.

Havia uma crise instalada, a mais grave de todos os tempos? Uma greve? O tráfico aéreo estava parado? Sim, Sim e Sim! Daí, evidente, uma medida uma medida urgente precisava ser tomada para garantir o direito constitucional de "ir e vir" dos brasileiros que precisam viajar, pelo ar. Mas o aspecto "forçado", da situação, manchou a política de sobriedade do atual governo no tratamento das questões que mais repercutem na vida do cidadão.

Outro dia, sabiamente, um dos principais telejornais noturnos do país mostrou, de maneira didática, três declarações do senhor Luis Inácio Lula da Silva, apresentadas do ano passado para cá, cobrando resposta urgente para o problema dos vôos atrasados, aeroportos inoperantes e controladores revoltados.

O noticiário fez bem em lembrar a sociedade que não é de agora que o Presidente vem procurando saber o que está acontecendo... e nunca sabe! Aliás, nem mesmo estou convencido se, neste último episódio, do luxo das residências oficiais do governo americano, Lula conseguira se lembrar que há já faz um tempinho que este problema esta aí e que não havia chegado ainda em sua mesa uma resposta e/ou proposta justificáveis. Lula que foi se encontrar com Bush menos de um mês antes daquela visita do mandatário norte-americano aqui no Brasil. Lula que foi para os EUA de AeroLula, com planejamento de vôo especial, óbvio. O Presidente que no episódio do Mensalão, disse não saber de nada.

As reivindicações dos controladores foram atendidas, na marra, por que uma paralisação, sem precedentes, parou o tráfego de aviões civis no país na tarde e noite da última sexta-feira.

A anunciada desmilitarização do controle do tráfego aéreo e a criação de um órgão civil, desvinculado do Ministério da Aeronáutica, para congregar os responsáveis pelo controle dos vôos.

Tratam-se de alternativas que realmente podem melhorar a situação nos Aeroportos. Por um fim, de vez, talvez, a esta vergonha pública nacional. Mas não tem como associá-las (respostas , as medidas do governo) à fragilidade do próprio Presidente e de sua equipe no tratamento desta questão. Observe que foram vários os pedidos de explicação, e até então, nem uma previsão de resposta e/ou mudança na gestão do tráfego aéreo havia sido anunciada. De uma hora para outra, o governo viu-se obrigado a render-se às exigências dos militares e civis, sob pena de os aviões continuarem parados nos pátios, e os passageiros se amontoando e até morrendo nos saguões, como aconteceu no Sul.

Até quanto as respostas deixaram de ser tardias, e chegarão a tempo de implantar resultados realmente solucionadores? E se a moda pegar? Ou seja, se cansados de esperar por respostas efetivas profissionais de outros setores do governo resolverem parar fazendo pressoa para o atendimento d suas demandas?

Registre aí: Estamos na eminência de enfrentar uma nova rebelião, desta vez na Polícia Federal. Delegados e policiais federais de todo país acenam com a hipótese de deflagrar manifestações por melhorias salariais a partir de quarta-feira de cinzas. E não estaríamos longe de um estado de greve na PF, o que significaria riscos à segurança nos aeroportos e em todos os outros locais e operações que exijam a presença dos federais.

Não obstante todos os outros esforços do atual governo, sobretudo na área social, dignos de reconhecimento, aos poucos, vamos descobrindo uma a fragilidade de planejamento estratégico e de gerenciamento de crise instalada na República atual.