DE MEDÍOCRES A TALENTOSÍSSIMOS

Quando a banda estourou, em 1999, com Anna Júlia, pensei: que bandinha mequetrefe, essa. É mais uma daquelas que grava musiquinha colante para tocar nas rádios. A música tinha todas as características de que havia sido feita pra vender. Eu me lembro que, na época, estava na faculdade e comentava isso com os colegas. Hoje, olho para Los Hermanos com uma visão totalmente diferente. Para mim, a banda é, disparada, a mais criativa do cenário nacional. Tanto, que não pode ser entitulada como uma banda de rock, de MPB, de samba, de pop... Na verdade, eles misturam tudo isso e o som é muito bom. Gosto muito deles por dois motivos: não se dobram à mídia (quantas vezes você já os viu num programa de TV aberta?) e são autênticos. Ano passado eles estiveram em Brasília pela enésima vez. O DFTV, jornal local da TV Globo, fazia uma entrevista ao vivo com eles. A repórter, que prefiro não dizer o nome, chamou o vocalista Marcelo Camelo de Marcelo Campelo. Foi a deixa: a partir daí tudo que ela perguntava ele respondia de forma monossilábica: sim, não, é, hum hum... Alguns dias depois eu me encontrei com a repórter e comentei o acontecido. Ela disse que se sentiu super mal porque sabia que o vocalista havia ficado "p" da vida com a falha e descontou da pior maneira que um repórter pode querer: respostas sem conteúdo. Mas mesmo assim ela continuava fã da banda.

Graças ao bom Pai, depois de Anna Júlia, eles lançaram ótimas músicas em ótimos discos. A música que escolhi para hoje é do último CD 4(quatro), lançado também em vinil: O vento. A canção é deliciosa e está tocando em tudo quanto é lugar. Amantes da boa música, com vocês, Los Hermanos.

Posso ouvir o vento passar
Assistir a onda bater
Mas o estrago que faz
A vida é curta pra ver
Eu pensei que quando eu morrer
Vou acordar para o tempo
E para o tempo parar
Um século, um mês
Três vidas e mais
Um passo pra trás?
Por que será?

Vou pensar
Como pode alguém sonhar
O que é impossível saber
Não te dizer o que eu penso
Já é pensar em dizer
Isso eu vi, o vento leva!
Não sei mas sinto que é como sonhar
Que o esforço pra lembrar
É vontade de esquecer
E isso por que?

(diz mais)
Ú
Se a gente já não sabe mais
Rir um do outro meu bem
Então o que resta é chorar
E talvez
se tem que durar
Vem renascido o amor
bento de lágrimas.
Um século, três
Se as vidas atrás
São parte de nós
E como será?

O vento vai dizer lento que virá
E se chover demais
A gente vai saber,
Claro de um trovão,
Se alguém depois sorrir em paz
(Só de encontrar...)