sexta-feira, janeiro 26, 2007

MORTE DOS FISCAIS AINDA É LIGADA À ESCRAVIDÃO

No próximo domingo, o que ficou conhecido como "chacina de Unaí" completa três anos. Até hoje, nenhum acusado foi julgado pelas mortes dos auditores fiscais Eratóstenes Gonçalves, João Batista Lage, Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira. O caso ganhou repercussão internacional. E a imprensa, até hoje, diz que os servidores do ministério do trabalho fiscalizavam denúncias de trabalho escravo. Pura jogada da imprensa para "esquentar" a matéria. A lei diz que qualquer caso de trabalho escravo deve ser investigado por uma força-tarefa formada por policiais federais, integrante do ministério público do trabalho, além dos auditores fiscais. Todos sabem que só os fiscais estavam no local. Foi uma emboscada? Sim. Foi por denúncia de trabalho escravo? Não.

MINISTÉRIO DO TRABLAHO RECONHECE QUE NÃO HÁ TRABALHO ESCRAVO EM UNAÍ

Na TV Justiça, onde faço reportagens, sempre que há alguma novidade sobre o caso e, por isso, uma nova matéria, recomendo a não falarmos em trabalho escravo e sim em fiscalização do ministério do trabalho. Fiz até uma matéria sobre isso e entrevistei o chefe dos fiscais, em Brasília. Ele confirmou que o assunto foi levado para o lado de escravidão, num primeiro momento, mas depois esclarecido pelo próprio ministério como uma fiscalização corriqueira. Mas fiscalização corriqueira não vende jornal. Trabalho escravo vende. Eu me lembro que, naquela época, fiz várias matérias sobre o assunto. Questionei muitas autoridades sobre o fato. Todos disseram que não há nenhum registro de trabalho escravo em Unaí. Há ou havia, sim, trabalho de degradação do trabalhador. Sabe o que é isso? Se um bóia-fria trabalha sem luvas, botas ou óculos de proteção, por exemplo, pode estar sendo degradado. Quando eu era criança capinava a roça de milho na chácara do meu pai, plantava mandioca, ordenhava as vacas e apartava os bezerros todos os dias. Nunca me senti um escravinho. Pelo contrário, adorava fazer aquilo.
OS ACUSADOS
Nove pessoas foram presas. Algumas delas de forma muito estranha. Não vou entrar em detalhes sobre essa estranheza. Prefiro que você, leitor, chegue à sua própria conclusão. Entre os presos, Antério e Norberto Mânica. Antério se tornou prefeito. Por isso tem foro privilegiado. Norberto está solto depois de ser preso por duas vezes. Está livre amparado por um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça no dia 28 de novembro do ano passado. Os acusados que, segundo o Tribunal Regional Federal, em Brasília, vão a júri popular são: Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios, Willian Gomes de Miranda, Francisco Élder Pinheiro, José Alberto de Castro, Humberto Ribeiro dos Santos e Hugo Alves Pimenta. Eles respondem por homicídio triplamente qualificado. As penas variam de 12 a 30 anos de prisão. Mas quem já está condenada é a cidade, até hoje associada à chacina. O tempo da pena é que ninguém sabe.

Um comentário:

disse...

Prezado Cristiano,

Acredito que na sua época, além de nem existir material de protecão para o trabalhador, como luvas, botas e óculos de protecão, você trabalhava numa roça, como você mesmo disse. Esses trabalhadores que se veem degradados em sua atividade na lavora, não estão em roças!! Estão em grandes fazendas, que lanca mão de tecnologia de ponta..
Os fiscais que foram mortos naquela chacina não perderam suas vidas porque estavam fazendo a rotina diária..ou você acredita que um médico é morto porque atende seus pacientes? ou um arquiteto é assassinato porque desenha e excuta plantas???
Não sei se o Prefeito e seu rimão e cia são culpados, mas sei que o argumento que a Policia Federal e a Justiça não iriam prender um grande empresário do agronegócio sem provas. Não acredito também na tese que usam de que "estavam sendo perseguidos por adversários políticos". A PF é a única policia desse país tupiniquim que tem conduta de respeito, se comparada as outras...
O fato é que neste país, a justiça existe somente para os ricos. Prova disso é que lá na cadeia estão os assassinos e mandantes diretos da morte dos fiscais; mas os graúdos, como o senhor prefeito de Unai e seu irmão, estão livres por habeas corpus e forum privilegiado.
Outra prova? é só voce verificar o número de recursos em segunda estancia.
Acredito que se a PF os prendeu com provas concretas do envolvimento do prefeito e do seu irmao, devem permanecer presos. E acredito que trabalho escravo é o mesmo que trabalho degradante. Pois reduz o individuo a condicao humilhante, ao privar este de sua segurança no trabalho que enriquece aquele que o seu "coronel".